Poemas Inspiradores
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José Saro é professor.
Selecionado da obra As Frias Madrugadas, de Fernando Namora, mão amiga permitiu a reflexão sobre a beleza e o ensejo do choro. A (in)felicidade é, por excelência e ao contrário do que nos "vendem", um superior estádio de aprendizagem. Substâncias como a noradrenalina e a serotonina, impelidas pelo sistema nervoso, pressionam a glândula lacrimal e: eis que surge a lágrima. São mais lentas as lágrimas humanas, a viscosidade incita a empatia.
O choro é somente maquinal ou completamente emocional? Ambos.
Um olhar atento à realidade circundante deve fazer-nos chorar para (re)agir.
As representações e os estádios emocionais fazem-nos chorar. O choro, que não é carpir nem berrar, liberta e inspira a compaixão. Através do choro libertamos as angústias e inspiramos a positividade da vida. Chorar aproxima, liberta e renova. Claro que vale a pena chorar porque, após a feminina ou masculina lágrima, sentimos o universo do Sérgio Godinho «Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida». A vida é para se viver!
Chorar para quê,
se as lágrimas rolariam discordantes?
Para quê agitar braços de navios destroçados
e ouvir o ranger dos mastros quebrados
ou ficar no cais, no ermo da partida,
se a madrugada é uma bandeira garrida?
Ontem - é a cidade perdida,
todo o mundo o sabe.
Hoje - é a ponte para amanhã,
todo o mundo o diz.
Ai a vida não é o carpir horas mortas,
o caruncho na madeira apodrecida,
as pegadas que ficaram para trás.
Vida é alento, a conquista
do império jamais alcançado.
E não o cobarde lamento
pelas cinzas
das árvores, dos pássaros, das flores,
Do navio que foi ao mar ...
e lá ficou.